domingo, 18 de abril de 2010

5. Não quero saber se pedra pari ou põe

“Não me venha com desculpas! Não quero saber as razões que você agora vai me dar para poder explicar porque não fez o que eu mandei!” Era mais ou menos assim que uma senhora sacerdotisa dizia para seus discípulos, quando estes não realizavam as tarefas que lhes eram confiadas. Uma sacerdotisa (que se preze) está sempre em sintonia com as “Leis Universais”. Sendo assim, nunca pede aos seus discípulos aquilo que eles não podem fazer. E era por isso que esta velha sacerdotisa se utilizava deste dito popular para ensinar que quando uma ordem nos é dada, principalmente pelo “Universo” ou pelo nosso guia espiritual, ela deve sempre ser seguida.

Mas, apesar da palavra “discípulo” significar aquele que tem disciplina, eu prefiro dizer que discípulo é aquele que está em treinamento para ter disciplina. E, por ainda estar em treinamento, sente dificuldade em cumprir as ordens que recebe. Falta-lhe concentração e um pouco de sabedoria para compreender que, geralmente, o que lhe é ordenado faz parte do seu processo de aprendizagem. Também ainda não foi adquirido, pelo discípulo, aquele nobre sentimento que possuem alguns seres – o sentimento da boa vontade.

Lembro-me que quando eu era pequena e minha avó me dava alguma ordem, esta sempre vinha acompanhada da seguinte frase: “vou cuspir no chão”. O que significava que eu deveria voltar antes que a saliva secasse. Ela sabia que era bem provável que eu fosse parando em vários lugares, a fim de conversar com meus amiguinhos. E, assim, esquecesse de fazer o que me foi pedido, terminando por chegar em casa com uma “desculpa esfarrapada”, por não ter conseguido realizar o que me foi solicitado. Ela sabia que me deveria educar no sentido de que eu aprendesse a grande arte da concentração.

Minha avó me ensinava esta arte tão difícil de ser aprendida, através de frases bastante interessantes: “Não se pode assobiar e chupar cana”; “não se serve a dois senhores”. Ela também me orientava para que quando eu saísse, na intenção de realizar alguma tarefa, não me desviasse do caminho, pois “só jegue de aguadeiro deve ir parando de porta em porta” – dizia ela.

No repertório de casos que minha avó utilizava para reforçar este ensinamento, tinha um que era muito engraçado:

“A mulher pediu ao marido que fosse até a feira, a fim de trazer uns caranguejos para o almoço. Este não hesitou, nem um minuto, em realizar o desejo da mulher. Foi então para a feira, comprando os caranguejos assim que chegou lá. Mas aconteceu que ele encontrou uns amigos e começou a tomar uns aperitivos. O tempo foi passando e quando ele se lembrou que tinha que levar o alimento para o almoço, já estava quase na hora do jantar. Não queria tomar “bronca” da mulher, então “bolou” uma daquelas “desculpas esfarrapadas”, as quais não convencem ninguém: chegando na porta de casa, soltou os caranguejos da corda. Quando a mulher viu o marido, foi logo dizendo um monte de desaforos e pedindo uma explicação para o fato. Ao que ele disse, fingindo-se magoado: você acha, mulher, que foi fácil vir tangendo estes caranguejos da feira até aqui?”

Para não ter que recorrer a estes expedientes ridículos, é que me esforço ao máximo para seguir uma das mais importantes orientações de vovó: eduque sua mente para que ela esteja sempre concentrada naquilo que está fazendo. Afinal, “dois sentidos não assam milho”.



(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)

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