sexta-feira, 19 de março de 2010

28. Todo mundo é bom, mas meu capote sumiu


Como falei anteriormente, esta foi uma das mensagens que me foi muito difícil captar o significado. Na verdade, eu não queria entendê-la, pois teria que pagar um alto preço – perder a minha inocência – pela compreensão deste dito popular. Eu teria que deixar de ver o Homem como um ser coberto apenas por luzes e enxergar nele também o seu lado de trevas (os defeitos inerentes da natureza humana que todos tentam encobrir, mas que são como “gato escondidos com rabo de fora”).

Aprendi, então, que a Terra não é o paraíso no qual sempre sonhei viver. E que os habitantes deste planeta não são os anjos que eu via em meus sonhos. Porém, depois de muito sofrer com a constatação desta realidade, aprendi uma coisa que me valeu por todos o meus aprendizados de até então. Aprendi a amar o planeta Terra e os seus habitantes, não da forma que eu desejava que fossem, e sim, da forma como realmente eles são.

Isso aconteceu quando eu já estava com 34 anos e vivi urna experiência que me fez escrever o seguinte conto:

UM CONTO DO MAR - UM ENCANTO DE IEMANJÁ

Mais uma vez eu estava triste, como sempre estive desde criança, por ver os espinhos – as flechadas – que os seres humanos atiram um nos outros. E que se pelo menos fossem flechas de amor! Flechas de Cupido! Mas não, são flechas que contêm em suas pontas venenos altamente destrutivos.

No entanto, apesar de toda tristeza, eu não mais pensei que não suportaria viver no planeta Terra. Pois, aos 34 anos, já sabia que não se morre de tristeza. Pelo menos não quando se tem tanta esperança no coração. Esperança de um dia viver num mundo repleto de pessoas amadurecidas e amorosas.

Resolvi então caminhar um pouco pela praia. Foi quando encontrei morto um ouriço: um molusco que possui um casco coberto de espinhos. Ao ver aquele molusco morto, eu voltei a sonhar com o desaparecimento de todo e qualquer tipo de agressividade. E resolvi fazer dele um amuleto: tiraria todos os seus espinhos e pediria a Iemanjá – Deusa do Mar – que se não conseguisse tirar todos os espinhos do mundo, que pelo menos não permitisse que eles me atingissem.

Encostei-me num barco para preparar meu amuleto, quando ouvi uns gritos vindo em minha direção: era o dono do barco que se aproximava agressivamente. Foi uma prova para a minha fé! Porém, em nenhum momento deixei de acreditar que lemanjá ali estava presente, protegendo-me de alguma forma que até então eu não entendia.

Quando “Seu Pombo”, este era o nome do meu inimigo-amigo, se aproximou de mim, eu curvei um pouco o meu corpo e me desculpei. As minhas palavras tiveram um efeito mágico! Lentamente, aquele homem foi acalmando a voz, terminando por desculpar-se; convidando-me, inclusive, para passear no seu barco e até hospedar-me em sua casa.

Compreendi que eu tinha realizado um feitiço: um feitiço de amor! Um feitiço de amor, humildade e compreensão pelo ser humano. lemanjá estava ensinando-me que o amor seria o escudo que me protegeria de todas as flechas envenenadas.

Eu tinha acabado de ganhar um presente. Um presente do mar! Um presente de lemanjá!



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