quinta-feira, 18 de março de 2010

34. Até as cobras se abraçam, quanto mais as criaturas


Tive a grande sorte de ter tido pais que souberam ser ao mesmo tempo firmes e meigos. Recebi na infância uma grande dose de carinho, que vinha recheado de toques, afagos e beijos. Com isso fiquei viciada e passei a trocar carícias com todos que de mim se aproximavam. Algumas me deixavam plena de amor. Outras, no entanto, pareciam fazer com que eu ficasse triste, vazia e fraca. Era como se ao invés de ter trocado amor, tivesse recebido uma dose de veneno, que penetrava pelo coração e através do sangue se infiltrava por todo o meu ser.

Eu era muito pequena ainda para compreender aquilo, que para mim era um grande mistério. Até então, pensava que todo mundo era uma extensão da minha família e, assim, eu poderia abraçar e beijar a todos, fazendo com que o amor se espalhasse cada vez mais.

Ignorância! Santa ilusão! Ou talvez, inocência e falta de conhecimento da população que habita a Terra.

Mas toda criança cresce e, com o passar do tempo, aprende. E se não se torna capaz de desvendar todos os mistérios da vida, pelo menos alguns véus são retirados.

Quando eu retirei o véu desse mistério, sobre o qual estou comentando, aprendi muito mais do que esperava. Vi que realmente o mundo é uma extensão de minha família, mas que como toda grande família é composto de pessoas boas e más. Aprendi que cada indivíduo possui vibrações energéticas diferentes e que só com aqueles que estão vibrando no mesmo grau de sintonia pode ocorrer uma verdadeira e saudável troca energética.

Continuei crescendo, observando e aprendendo. Até que um sábio indiano aprofundou meus conhecimentos sobre a troca de toques. Ele explicou-me que é por precaução, para evitar o que poderíamos chamar de contaminação energética, que na Índia evita-se os cumprimentos realizados através de abraços e beijos. Uma saudação, onde o corpo se reclina em sinal de respeito ao ser divino que ali se encontra; dando-se, no entanto, um passo para trás, a fim de proteger-se da energia de alguém que se encontra ainda em processo de humanização é o suficiente para demonstrar o respeito pelo outro.

Não sou indiana, mas “aprendi a aprender” com todos os povos, de todas as raças e de todas as partes do planeta. Por isso, hoje evito ao máximo trocar beijinhos e abraços sociais. Seria como limpar minha casa e permitir que a todo momento algum irresponsável, displicente ou desmazelado a suje.

Mas, quando os abraços com as “cobras humanas” são inevitáveis, procuro pelo menos criar uma barreira protetora, feita de amor, compreensão e força, a fim de que o veneno delas não me atinja. E se atinge, tomo logo o soro antiofídico contra “cobras sociais”: uma boa chuveirada, que limpa, refresca e revigora o corpo e a alma.


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